foto:andersonnobre-mai/2020

A Vida em Espiral

 Hoje ao acordar, fiz como sempre faço… Abro a cortina do quarto em uma fresta, dou uma espiada na serra que se mostra majestosa à frente e dou aquela espreguiçada. É como se pedisse aquele monte de pedras recoberta de árvores e arbustos que me recarregue com um pouquinho da inesgotável energia da natureza, para mais um dia do viver.

Percebo a serra já em transformação. Sob o manto verde em descolorido, salpicados tons amarronzados e amarelados surgem aqui e ali, confidenciando a transição de estações. Logo, esse colorido de inverno empurrará o verde primaveril pra depois e reinará por alguns poucos meses vindouros.

Pouco mais tarde, preparo-me para mais uma sessão de pedaladas, mas sem antes lançar meu observar diário e incansável, por saber breve,  para um cacho de flores de orquídeas que despontaram há pouco. Belas, amarelas, em sutis gradientes de texturas e curvas de fazer inveja a qualquer software de edição de imagens. Irresistível a mais alguns cliques da sempre companheira máquina fotográfica…

E segue assim… A serra em seu processo de descanso e renovação. A orquídea em seu processo de florescer e exibição. É a roleta da vida girando em estações. Perfeita mixórdia de cores, sabores, odores, humores, amores, dores, temores, flores…

Não sei a que me vem um pensamento de ser a vida uma crescente espiral, que deixa marcado seu tempo em círculos contínuos, empilhados. Que se iniciam em bases largas, quando nossa visão se amplia em todos por todos os redores… Procura, descobre, investiga, aprende. O tempo parece passar em lenta rotação, bem devagar…

E ao seguido girar das estações, crescemos em uma espiral de verões, outonos, invernos, primavera… E de novo verões, outonos, invernos, primaveras….

Com o passar das estações, o espiralado – sempre concêntrico ao observador -, vai se afunilando. E avança para estágios em que já não é preciso esticar tanto o olhar, pois já achamos tanto, descobrimos tanto, tanto investigamos, tanto aprendemos…

Quanto mais alto, mais os diâmetros dos caminhos se encurtam. Mais claras ficam as percepções. Menos sofridas as decisões. Mais resilientes as emoções. Mais contemplativo nosso olhar. Mais rápida a sensação do girar das estações…

Mas ainda há o que saber, pelo que procurar e pelo que esperar. Sempre haverá! Ao rodopio da roleta. Ao transitar por estações, por ciclos, em círculos.

É o subir da vida em espiral… Pra de novo verdejar e depois secar… Pra de novo florir e depois brotar…

 
 

Por Anderson Nobre

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