Foto: Sérgio Yuri - Brasília de Minas - MG

Árvores

Morei e trabalhei na cidade de Brasília de Minas – MG por aproximadamente dez anos.

Volto sempre lá, pois a minha esposa nasceu ali e por lá ainda residem meus sogros, cunhado,  sobrinhos. Em recente visita àquela cidade, pude observar novamente uma enorme árvore situada próximo a um pequeno córrego (está registrada na foto que ilustra esse texto). 

Nos tempos em que eu lá morei, havia poucas casas nos arredores dessa árvore. Hoje não, a cidade está crescendo rapidamente e o seu entorno está repleto de residências e comércios.

Mas ela continua lá, ocupando o seu espaço, resistente, imponente, majestosa. Disseram-me ser uma gameleira.  

Tenho deveras atração por plantas assim, grandes árvores com seus elementos bem caracterizados: fortes e salientes raízes, troncos de enorme circunferência exibindo a rugosidade das  marcas profundas do tempo, galhos robustos e ramificados, folhas fortes. As vezes, nos dão frutos. Caprichos da mãe natureza!

Fiquei me perguntando qual seria a idade daquela árvore. Pelo porte, creio que deva ter muito mais de centena de anos. Pensamentos em ebulição, imagino quanta história aquela enorme planta deve ter testemunhado.

Com certeza viu a cidade nascer. Conheceu seus primeiros habitantes. Presenteou fresca sombra a talvez milhares de pessoas. Assistiu gente chegando e gente partindo, gente nascendo, gente morrendo. Viu ruas e casas surgirem num de repente, quase que do nada.

Quantas tropas com seus homens e animais devem ter se hospedado ao seu tronco e raízes, recompondo forças para continuarem em sua jornada?  Os de pensamento mais ao longe, daqueles que dão alimento aos causos populares, podem visualizar um bando de cangaceiros abrigados sob a sua copa, naqueles épicos tempos das escrituras lavradas ao punhal e ao parabelo.

Quantos casais, enamorados, serviram-se daquela frondosa árvore para juras eternas? Quantos operários, que trabalharam nas obras de urbanização próximas aquele local, encontraram debaixo daquela sombra um cantinho para uma merecida pausa?

Até hoje, creio, aquela gigante deve ser um local aprazível para um descansar, um bom bate-papo e talvez até um cochilo sobre um macio colchão de folhas secas, em dias de pouco movimento.

Infelizmente, a árvore tem servido também como estacionamento de carros velhos, o que ao meu ver polui e distorce aquela bela paisagem. Fazer o que? 

Sem qualquer exagero, acho aquela árvore tão maravilhosa e simbólica que deveria ser, se ainda não o for, protegida por lei municipal. Aqui ninguém mete a motosserra, deveria uma placa estampar! Ah, deveria também conter a expressão: Proibido estacionar!

Árvore que ali fixou suas raízes. Que continua lá, inteira, preservada em toda a sua essência. Raízes, tronco, galhos e folhas abertos pra quem quiser desfrutar da sua sombra. Natureza em oferta, viva, longeva.

E nós, devemos ser como árvores?

Capazes de fixar e preservar nossas raízes, nutridoras de nossas origens, valores e crenças? Cuidadores do tronco da nossa essência humana,  lapidada ao longo do tempo pelo esmeril do existir? Fortes a ponto de sustentarmos nossos galhos, ramificados vida afora em muitas e muitas vivências e convivências? Resilientes ao ponto de entendermos que a renovação de nossas folhas é um processo fundamental ao nosso contínuo viver?

Sermos como árvores, aliando a nossa inigualável capacidade de nos transformarmos, seja em atos ou em pensamentos. De um lugar ao outro, de um estado de ser ao outro. 

Estarmos como árvores, num constante crescer, amadurecer, florescer. E assim nos tornarmos fortes e frondosos, ampliando nossa capacidade de cativar, acolher, abrigar, proteger, encantar…

Árvores!


Por Anderson Nobre

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