Catando Lembranças - Gratidão!

Catando lembranças…

Ao longo de minha carreira de 35 anos de Banco do Brasil, conheci muitas pessoas, colegas de trabalho. Diversas influenciaram e foram extremamente importantes na minha trajetória profissional. Aprendi, ensinei, compartilhei experiências, vitórias, fracassos, alegrias, tristeza… O balanço final foi com certeza positivo. Por isso, sou imensamente grato a todos que comigo dividiram essa jornada.

Poderia agora citar vários desses colegas. A lista seria extensa com certeza, mas seria injusta, pois inevitavelmente esqueceria de mencionar alguns nomes.

Todavia, provavelmente por eu ter passado na porta da agência em recente visita à Brasilia de Minas, vieram-me à memória duas dessas pessoas. Eu as encontrei em momentos decisivos para a minha carreira no banco e para a minha vida pessoal. 

Ambos demonstraram grandiosidade, desprendimento, generosidade, altruísmo. Por isso, faço aqui um breve registro desses encontros e do quão foram marcantes para mim.

Muito obrigado Sr. Tolentino!

Ano de 1983 se não me engano. Havia acabado de enfrentar uma situação constrangedora no banco, ocasião em que fui desligado da função de fiscal [1]. Chateado, envergonhando, desmotivado, ciente de minha falha profissional, tinha que recomeçar. Fui alocado no setor de operações de crédito, na agência de Brasília de Minas. Tinha pouco mais de dois anos de serviço no Banco do Brasil.

Nessa mesma época, toma posse na agência um novo supervisor, que seria o responsável pela chefia justamente do setor de crédito. Chamava-se Robson Rocha Tolentino. Era natural de Corinto – MG. Era ainda jovem e já assumiria a coordenação do setor. Todos ficaram curiosos. Alguns desconfiados…

Em poucos dias o Sr. Tolentino, como carinhosamente passamos a chamá-lo depois, mostrou a que veio. Cordial, educado, exímio conhecedor das normas e rotinas da área de operações, rapidamente ganhou a admiração de todos, principalmente dos subordinados.

Ele  apreciava uma cervejinha gelada e uma boa cachaça. Também gostava de jogar futebol. Então, eu e a maioria dos colegas, igualmente amantes de uma boa conversar à mesa de bar e de uma peladinha,  logo fizemos amizade com o novo supervisor.

Certo dia o Robson me chamou e disse que teríamos que analisar uma proposta de crédito de um cliente importante. Tratava-se de um empreendimento de maior vulto, portanto a análise teria que ser remetida para aprovação pela Superintendência em Belo Horizonte.

Confesso que tremi nas bases. Era a primeira vez que eu faria uma análise de maior complexidade e mais, que deveria ser submetida à instância superior. Mas, como um verdadeiro mestre,  o Robson chegou à minha mesa com o livro de normas de crédito na mão. Rapidamente me passou as orientações de como proceder e colocou-se a disposição para me auxiliar, caso necessário.

É lógico que foi necessário. Nesse primeiro e em alguns outros processos subsequentes. Acho que fiz um bom trabalho, pois ganhei a confiança do jovem chefe. A partir dai, fiquei responsável pelas análises mais complexas. Devorei aquele livro de normas de crédito. Adorava aquele serviço de análise de crédito. 

No banco, como em qualquer organização não é raro nos depararmos com ambientes altamente competitivos. Já presenciei, infelizmente, situações de pessoas que parecem guardar o conhecimento para si. Talvez por insegurança, imaturidade, sei lá…

O Robson não. Era nítido a sua vocação para líder formador, servidor! O apoio e o incentivo do amigo o qual, conforme diz o ditado popular “ensinou-me a pescar…” foi fundamental para o meu crescimento na agência e no banco.

Soube já bem depois que o Robson faleceu em circunstâncias trágicas (parece ter sido vítima de latrocínio). Fiquei deveras arrasado, pois tenho pelo colega forte apreço, admiração e gratidão.

Com certeza ele deve estar dando aulas no céu… Muito obrigado, Sr. Tolentino!!!

Muito obrigado caro Ronaldo!

Havia quase dez anos que eu estava na agência de Brasília de Minas – MG. Meados de 1991 e eu fora recentemente promovido a gerente, responsável pelo setor de operações – mesmo cargo que ocupara o colega Robson Tolentino, um dos meus mestres!

Naquela época o processo de automação bancária ganhava fôlego. Os computadores chegaram forte ao Banco do Brasil. Aos poucos foram substituindo nossas máquinas de escrever, a velha e boa calculadora Sharp nossos formulários em papel, nossas rotinas manuais. Nossas gavetas foram se esvaziando, substituídas por arquivos eletrônicos. Já havia menos cadeiras e mesas na agência. Tecnologia pedindo passagem…

Nessa toada os funcionários também diminuíam. Quando tomei posse na agência em Brasília de Minas havia cerca de oitenta funcionários. Naquele 1991 creio que já não passavam de trinta ou trinta e cinco. Estava em curso um processo de readequação de quadros, inevitável.  Eu, recém empossado na função de Gerente de Expediente, inseguro, temeroso, pois a tradição normalmente levava à preservação dos funcionários mais antigos nos cargos.

Eis que um dia sou chamado ao telefone – fixo, pois celular não existia outrora. Era o colega Ronaldo (me penitencio agora por não lembrar o sobrenome dele. Pecados da memória!). Ele falava de Belo Horizonte.

Antes porém de dar sequência ao desenrolar do telefonema, é preciso dizer que conhecia o Ronaldo por pouquíssimos  encontros presenciais (nas raras disputas de futebol inter-agências). Ele era funcionário da agência na vizinha cidade de São Francisco – MG. Algumas poucas vezes, havíamos trocado ideias por telefone, acerca de procedimentos de serviço. Era notório seu saber sobre as rotinas e procedimentos, principalmente relacionados à área de credito. 

Alô Anderson? Aqui é o Ronaldo, da agência de São Francisco! Eu, surpreso, logo respondi: – Oi Ronaldo, como vai? Em que posso ajuda-lo? Vejam só, eu achando que ele poderia pedir auxílio ou opinião quanto a algum procedimento do trabalho…

Surpreendido fiquei quando o Ronaldo me contou estar em uma missão como colaborador em um órgão regional do BB em Belo Horizonte, justamente tratando da resolução de dúvidas e problemas das agências em processos de crédito. Relatou-me que precisava retornar por questões familiares e perguntou-me se eu gostaria de substitui-lo na missão.

Lembro-me até hoje da taquicardia batucando no meu peito e do suor deslizando rosto abaixo. Das mãos congeladas! Atônito, mal consegui responder ao Ronaldo. Gaguejei, começando a questionar a natureza da missão e colocando em dúvida a minha capacidade para assumi-la. Ele, com a calma que lhe é peculiar, deu uma risada e disse: – É tranquilo, pode vir. Vai tirar de letra!

Cabeça a mil por hora, pedi-lhe um tempo para pensar. Tinha que avaliar a minha situação na agência, conversar com o gerente, pedir autorização para a namorada… Era uma mudança radical para mim que nunca havia saído daquele mundinho.

Conversas se seguiram… Muitas. Ponderei principalmente  o risco de perder o cargo em função da redução do quadro da agência. Por fim, apostando num futuro mais promissor, aceitei o convite e fui para BH, atuar como colaborador. Na missão pude atestar, sem surpresa, a admiração que os colegas de BH demonstravam pelo Ronaldo. 

Só voltei à agência de Brasília de Minas meses depois para arrumar as gavetas. Fui transferido definitivamente para Belo Horizonte onde fiquei durante cinco anos. Decisão difícil mas que viabilizou toda uma trajetória profissional no banco.

A namorada virou esposa e pouco tempo depois estávamos morando em Belo Horizonte onde nasceram os meus dois primeiros filhos deste casamento.

É Ronaldo, quanta gentileza em se lembrar de mim naquele momento. Quanta demonstração de empatia ao me convidar justamente num momento tenso, de muita insegurança frente às iminentes mudanças na agência. Quanta confiança depositada neste seu colega aqui! Eternamente grato meu amigo!


[1] Ver http://andersonfnobre.com.br/catando-lembrancas-notas-de-um-jovem-fisc

Por Anderson Nobre

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