Catando Lembranças... Quase numa gelada!

Catando lembranças…

Nessas aventuras do viver, não raro nos deparamos com situações divertidas, hilárias. Algumas vexatórias! Pois bem, lembrei-me de uma que se passou comigo em com alguns colegas meus do Banco do Brasil.

Sei que alguns desses colegas já escreveram sobre esse mesmo fato. Mas, sem cair na máxima de “quem conta um conto aumenta um ponto”, tentarei relatá-lo ao modo em que está arquivado em minha memória.

Quase numa gelada

Em 1996 eu já havia ingressado na área de tecnologia do Banco do Brasil. Trabalhava numa das dez unidades regionais de TI do BB, em Belo Horizonte – MG.

O Banco então, sob nova administração decidiu centralizar toda a área de TI em Brasília – DF (por sinal, decisão que se mostrou acertada ao longo do tempo). Foi um verdadeiro pandemônio. Milhares de funcionários teriam que ser transferidos para Brasília, caso quisessem continuar na área de tecnologia. Período de alta tensão e de insegurança para todos. Sufoco!!!

Eu, com dois filhos pequenos, havia adquirido um imóvel residencial em BH. Estava então, relativamente tranquilo, até receber a notícia da centralização.

Com muitas dúvidas, mas sem alternativas, decidi aceitar a transferência. Incerto quanto ao futuro, optamos por ficar eu em Brasília num primeiro momento, enquanto esposa e filhos foram morar em Montes Claros – MG, minha cidade natal.

Em 17.02.1997 tomei posse na Diretoria de Tecnologia em Brasília – DF. Durante um ano viajei  aos finais de semana para Montes Claros para encontrar a família. Era pegar o ônibus na sexta a noite para ir e no domingo, também a noite, para voltar. Cansativo!

Vários colegas tomaram essa mesma decisão, ou seja, foram para Brasília sozinhos. Logo que chegamos, surgiu a ideia de dividirmos um apartamento. Ficava mais em conta e teríamos companhia durante a semana para bons bate-papos. Bancário fala muito!!!

Alugado o imóvel, precisávamos de uma geladeira. Foi ai que o Luiz Oliveira, um dos republicanos, fez as vezes do Gastão, famoso personagem do Chico Anísio, extremamente “controlado” nas finanças. O Luiz foi logo nos classificados dos jornais a caça do referido eletrodoméstico. Usado, claro, e o mais barato possível.

Concluída a busca, ele anotou o endereço em um pedaço de papel, com aquela sua letra ilegível: Sobradinho, quadra 514, bloco C. Pronto, fomos em busca da geladeira. Dividiam o apartamento eu, o Luiz Oliveira, o Ângelo D’giovanne, o Getúlio Medeiros e o Montanha. Importante! O Montanha não deve ter mais que 1,65 metros de altura. Daí a alcunha.

Um colega amigo, o Adriano Leite possuía uma S10 cabine simples, novinha e se ofereceu para fazer o frete. Expediente encerrado, saímos rumo a cidade satélite de Sobradinho. Alguns de nós fomos na carroceria mesmo.

Não conhecíamos Sobradinho e foi um pouco difícil achar o endereço anotado pelo Luiz. – É aqui!! Alguém gritou. O Luiz, ansioso pela nova aquisição – o que significava a possibilidade de cerveja gelada já naquela noite – desceu e se dirigiu a residência do anunciante.

Era uma casa recuada, com uma grande área na frente onde um cachorro nos sorriu rosnando. Pra nossa sorte, estava preso! Logo que chegou ao portão, ouço o Luiz gritando: – Vem Montanha!!!  Segui logo atrás do Montanha e pude ver a surpresa e o pavor dos moradores ao presenciar aquela invasão. E ainda esperavam temerosos pelo tal Montanha, já que pelos que haviam adentrado nenhum se classificava na ideia transmitida pelo apelido, muito menos o próprio.

Logo vieram nos receber duas senhoras, provavelmente mãe e filha. Havia também algumas crianças pequenas e assustadas, abrigadas à barra das saias. Num uníssono, falamos: – Viemos ver a geladeira!!

A senhora mais nova logo começou a soluçar, dizendo: – Não acredito que ele fez isso comigo. Vendeu minha geladeira?? Nesse mesmo momento, o Luiz já explorava o objeto pretendido. Abriu porta, olhou gavetas, congelador, checou manualmente a temperatura…

A senhora, quase aos prantos, amparando-se na mãe,  ambas incrédulas, sussurrou: – Gente não, não é possível. Nós, explicamos, informando que estávamos precisando de uma geladeira e que tínhamos visto o anúncio no jornal. Ela insistia: – Vocês tem certeza gente? Eu só tenho essa geladeira. E os meninos, como ficam…? Dali, elas podiam ver o Adriano Leite encostado no carro, já com a tampa traseira aberta, pronto para o transporte.

Trocamos olhares… – Pega ai Luiz o endereço e mostra pra ela, alguém disse. O
colega tira do bolso o pedacinho de papel e lê: – Sobradinho, quadra 514, bloco C. Nesse momento, um raio de alívio pareceu atingir aquela mulher. – Bloco C, o senhor disse?, ela pediu confirmação. – Sim, respondeu o nosso porta-voz. – AQUI  É  O BLOCO  G !!!! , retrucaram em coro e em alto e bom som, mãe e filha.

Envergonhados, batemos em retirada, com olhares faiscantes para o Luiz Oliveira, que tentava às gargalhadas se desculpar. Por fim, dirigimo-nos ao endereço correto e compramos a desejada geladeira.

O resto da noite foi regado a cerveja gelada ao tira-gosto das gargalhadas pela trapalhada geral.

É assim que me lembro e conto esse causo…


Por Anderson Nobre

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