Meus escritos aqui serão sempre simplistas e despretensiosos. Ensaios regressivos para um tempo bom. Que passou. Na redoma da timidez, penso impublicáveis…Mas tem me feito muito bem. Então, lá vai…
Chove chuva, chove sem parar…
Sempre gostei da chuva. Principalmente das primeiras chuvas, aquelas do segundo semestre do ano.
Acolá, na década de 70, parece que elas vinham mais cedo. E eram mais abundantes. Os mais antigos sempre falavam da “chuva de broto”, aquela temporã, mas comum, já de mês de agosto. De dar gosto!.
Chovia. O sabor úmido de chuva e vento misturava-se ao cheiro gostoso do café recém coado. Cafezinho, pão torrado e um ovinho caipira cozido e quentinho. Precedido do materno conselho: – Vê se não suja o uniforme, pois nesse tempo não vai secar…”, #partiupolivalente!!
No lote ao lado de casa, um Tiziu saltitante parecia sempre me dizer bom dia, equilibrando-se nas finas folhas do capim colonião. Jovem e ainda pouco habitada, a rua Daniel Costa se apresentava nua, em terra e cascalho. Com um guarda-chuva ou, se só garoa, com a pasta escolar sobre a cabeça, nas pontas dos pé, pra não grudar muito barro, desviando das enormes poças de água, percorria uns 40 metros até a rua Olímpio Dias de Abreu. Asfalto, salpicado de pelotas de lama espalhadas pelo trânsito dos veículos oriundos das vias de terra. Descia pro colégio no sentido enxurrada abaixo, tendo a serra como paisagem de fundo, já verde de novo, imponente, exuberante.
Na entrada do Polivalente, aglomerados de sobrinhas e guarda-chuvas disputavam espaço no portão de entrada para o depósito das cadernetas a serem carimbadas. Presente! Não raras vezes, assistimos aulas ao som reconfortante da chuva no telhado. As vezes, assustávamos com clarões em flash, seguidos por estrondosos trovões. – Será que tem para-raios aqui? “Recreio” e educação física ‘indoor”. Ao final da aula, já descompromissados, as vezes desfrutávamos de um banho de chuva. Lava a alma!
Sempre gostei da chuva.
Nesse norte com fama de seco, a chuva era bem-vinda e abençoada. Hoje em dia cada vez mais!! Trazia uma sensação boa, revigorante, de renascimento, esperança e vida. Sentimentos de infinitude num tempo sabido finito.
Sempre gostei da chuva.
Pelas bandas daquele Jardim São Luiz, a vida explodia em cores, flores e bichos. Mariposas chegavam aos milhares. Sapos e pássaros comemoravam a fartura alimentar. Tanajuras se exibiam rainhas. Caranguejeiras arriscavam uma saída em pleno dia.
Sempre gostei da chuva.
Pó e água num aguardado reencontro. Caldo nutritivo, seduzindo sementes. Fertilidade. Tempo de preparar a terra, plantar. De acreditar e esperar. Logo, logo milho verde, pamonha…Pequi!!
Sempre gostei da chuva, da terra molhada, do Grupo Agreste, de Ponte Cigana…
“Não pode me entender
Quem nunca sentiu o cheiro
De terra molhada
Quando a chuvarada
Molha as terras do gerais…”
por Anderson Nobre