Gosto muito de fotografar as coisas da natureza. Especialmente animais de pequeno porte. Insetos, répteis, anfíbios e pássaros.
Em recente viagem a São Gonçalo do Rio das Pedras – MG, saí bem cedinho para uma sessão de fotos. Modelos a serem fotografados não faltavam. Logo me deparei com a imagem que ilustra esse texto.
Ao capturar a imagem, fiquei impressionado com os incríveis mecanismos da natureza ali presentes. Formas, cores, sentidos, movimentos… É tudo tão perfeito que nos obriga a agradecer ao Criador, seja qual for nossa a crença, religião ou credo.
A lagarta devorando a folha – animal e vegetal. A anatomia da lagarta – confusão entre frente e trás. As sensações em relação a lagarta – para uns, linda, majestosa; para outros, feia, tenebrosa.
Ao olharmos, a lagarta parece flor, exuberante, colorida. Se a tocarmos, será feito fogo, ardido, dolorido. O enfeite atrativo dos seus pelos em vivos branco e amarelo, torna-se eficiente arma de defesa. Esses bichos peludos, de fogo, normalmente apresentam alta toxicidade.
Tempos de outrora, já bem distantes, provavelmente a minha reação seria por eliminar aquele bicho. Praga!
Agora não, aprendi a conviver com elas, do contrário como teria modelos borboletas em minhas fotos? E, afinal de contas, eu é quem estava em plena invasão do espaço alheio.
Penso ser assim em nossas vidas. Estava certo aquele pequenino príncipe, imortalizado por Saint-Exupéry, ao dizer que “é preciso suportar duas ou três lagartas para conhecer a borboleta”.
Temos sim que enfrentar as lagartas das perdas, das angústias, dos medos, das frustrações, das desilusões, do fracasso, do preconceito, das desigualdades… Elas serão muitas e muitas… Suportá-las de cabeça erguida, solicitando ajuda quando necessário.
Há que se ter paciência, persistência, perseverança, resiliência. Andar com fé… Aprender, amadurecer e fortalecer com esses bichos da vida, por vezes de alta peçonha. Cultivar nossos casulos interiores, para que se abram na hora certa, sob pena de frequente contaminação pela toxidade dessas lagartas, gerando fugas, vícios, pânico, depressão, isolamento. E mais lagartas…
Acreditar e lutar para que venham as borboletas da coragem, da tranquilidade, da alegria, das realizações, da compaixão, do perdão, do respeito, da justiça social… Saber usufruir do aprendizado e do fortalecimento colhidos das lagartas e viver, participar, colaborar, ajudar, conquistar, realizar, criar. Gerar borboletas atóxicas!
Há que se apostar na capacidade ambulante de metamorfose do bicho humano. Pra dormir num pesado e arrastado caminhar e acordar leve, voando ao doce sabor do vento e ao quente tempero do sol.
Dona lagarta, obrigado pela foto. Ao ritmo dos ponteiros do tempo, vai…, segue teu caminho. Próxima estação: casulo. Destino: borboleta!!
Por Anderson Nobre – jan/2020