Foto: Anderson Nobre - Em curso básico de fotografia Prof. Neto Macedo

Fotografia das Várias Faces

Vida de aposentado é assim. Procura algo a fazer aqui, um lazer ali… Nesse procurar, achei recentemente um curso de fotografia e me inscrevi, juntamente com a minha filha mais nova.

Tenho gosto pela fotografia já há algum tempo, por puro hobby, razão pela qual, apesar do amadorismo, disponibilizei algumas das minhas fotos em meu blog no Instagram @cataventosdeprosa.

Quatro dias de curso, sendo dois de conteúdo teórico e dois de práticas. No último dia de aula o professor nos levou às antigas e já bastante deterioradas instalações do há muito tempo desativado frigorífico Frigonorte. Quem é de Montes Claros – MG e já tem alguns fios de cabelos brancos vai se lembrar.

Confesso que não imaginava um cenário tão inusitado. Completo abandono, paredes caídas, poeira, lama, buracos nas lajes, poças d’águas acumuladas pelas últimas chuvas, matagal nos arredores. Cheiro forte de mofo. Pra completar, conhecemos os novos habitantes do local: aranhas, morcegos e micos. Minha filha apavorada!!

Mas o local era apropriado ao que se destinava a aula. Ambiente com bastante variação de luz, inclusive algumas salas bem escuras. Ao final todos saímos satisfeitos com o resultado. Aliás, para quem quiser se embrenhar pelo mundo da fotografia, ainda que sem pretensões profissionais, recomendo esse curso inicial, básico, ministrado pelo professor e fotógrafo Neto Macedo.

A foto que ilustra esse texto é um exercício em ambiente escuro, para o qual a câmera deve ser configurada em modo manual, sob um tripé, com foco ajustado, com uma baixa velocidade de exposição, profundidade de campo adequada e alta sensibilidade no sensor de captura. Durante o tempo de exposição o professor se movimentava de um lado para outro, iluminado por uma pequena fonte de luz artificial. Resultado bastante interessante!!

Revendo a foto, fiquei imaginando que na vida as pessoas podem ter as suas várias faces, como parece ter o nosso mestre na foto ilustrativa, mas que nem sempre todas elas são conhecidas ou percebidas.

Claro que me refiro às faces num sentido figurado, mas de forma nenhuma  num julgar pejorativo. Penso apenas que por vezes, na superficialidade de muitos relacionamentos, vários deles cultivados em ambiente virtual, não temos o tempo necessário para nos conhecermos de verdade e de nos aproveitarmos.

Nosso tempo de exposição é  por vezes muito rápido. Nossa abertura para captação da luz emanada pelos outros é pequena, tímida. Temos, invariavelmente, pouca sensibilidade para registrar as habilidades, as virtudes, os valores, as ideias, as crenças, as opiniões, as alegrias, as tristezas, os anseios, as angústias, os temores e até mesmo os defeitos dos outros. 

Muitas vezes nos relacionamos numa profundidade de campo rasa, escondendo ou distorcendo o que há no fundo. Na correria ou no modo automático do levar a vida, passamos a capturar apenas uma ou poucas dessas possíveis outras faces.

Talvez estejamos perdendo uma oportunidade enorme de armazenar a verdadeira galeria de fotos das pessoas com as quais nos relacionamos. É lógico que sempre teremos fotos melhores que outras, mas mesmo nas fotos ruins há o que se aprender e aproveitar.

Aprendi que a boa técnica de fotografar, exige conhecimento teórico e prático. Inspiração e transpiração. É preciso estudar o ambiente, conhecer o objeto a ser fotografado, focar. É preciso medir a luminosidade para ajustar os parâmetros da câmera.

Sabe-se lá se nas nossas relações humanas também não seja preciso algo semelhante. Esforço, paciência, dedicação, atenção e empatia, educação, cordialidade, confiança… E praticar, praticar muito! Assim, teremos a oportunidade de nos conhecermos melhor, de trocarmos boas energias, de darmos boas risadas ou de compartilharmos um choro reparador, de nos ajudarmos mutuamente.

Acho que se apostarmos mais no tempo na convivência, no diálogo, no olhar olho no olho, num abraço ou, até mesmo na empatia e na maior atenção quando no ambiente virtual, teremos melhores resultados para os álbuns das nossas vidas.

Penso que estou melhor, ainda que como amador e por puro hobby, com a câmera fotográfica. Com as pessoas, preciso me aprimorar, ler mais os manuais da vida para melhor praticar a captura das suas inúmeras faces.


Por Anderson Nobre

Sigam @cataventosdeprosa

5/5 - (2 votos)