Quase todos os dias faço a minha caminhada no parque Sagarana, ali perto do Ibituruna Shopping. Até pouco tempo eu corria, mas a sacroilíaca e o joelho estão atuando como freio motor.
Correndo, muitas vezes passamos rápido por tudo, deixando para trás pessoas, paisagens, percepções.
Obrigado a caminhar, observei que todos os dias, um senhor chega ao parque em sua bicicleta. De uma pequena mochila, vai tirando garrafinhas. Lá no parque há diversas casinhas de madeira, feitas para atrair os pássaros. O distinto senhor, percorre então, casinha por casinha, distribuindo o conteúdo daquelas garrafas. Logo, logo abrigam-se hóspedes ilustres, fartando-se de um delicioso banquete. São canários, sabiás, bem-te-vis, rolinhas, em bando, num agradável dobrar de gorjeios.
Seguindo na caminhada, percebo pessoas também com garrafas cheias de líquido. De pé em pé de bougainvilles e orquídeas espalhados naquele espaço, vão deixando um pouquinho daquele bendito líquido. Regalo!
Caminhando, penso no que motiva aquelas pessoas a dispensarem o conteúdo de suas garrafas, alimentando pássaros e plantas. Num auto julgamento, fico um tanto constrangido e até com certa inveja, questionando-me o por que não faço o mesmo. Muitas pessoas aparentemente não o fazem. Continuo andando…
Em momentos de ócio, os quais tento tornar agora mais criativos, penso em pessoas e suas garrafas. Nem sempre tais seres e seus recipientes nos são visíveis como aqueles lá do parque. Por isso, não há que prejulgar, sob o risco de macular os invisíveis. Muitos desses oferecem suas garrafas a outros que não pássaros e plantas, sem que paremos para repará-los. Todos, os visíveis e os invisíveis, produzem um tremendo efeito do bem.
Lembro-me, assim, das pessoas que, voluntariamente e gratuitamente, espalham o conteúdo de suas garrafas. Conteúdos diversos. Engradados de carinho, afeto, atenção, compaixão, alimentos, auxílio financeiro, tempo, dedicação, palavras, sons, sentimentos, gestos, beijos, abraços, olhares…Reciclando sempre suas garrafas do bem. Retorno garantido em riquezas da alma. Imateriais.
Pessoas provedoras, solidárias, altruístas, doadoras, valorosas, voluntárias. Atuam muitas vezes em ONG, igrejas, hospitais, escolas, asilos, comunidades…Que bom que estão espalhadas por ai.
Nos caminhos dessa vida, percebo alguns conformados com o ter e que ainda não alcançaram o ser…Outros, inconformados com o ter que já avançaram há muito pelo ser…
Eu? Tenho que voltar a correr, em prol da minha saúde, mas preciso continuar a caminhar, percebendo, aprendendo, agindo e quem sabe, começar a distribuir garrafas do bem.
por Anderson Nobre