Poeira Vermelha

Nos tempos do Polivalente…

Idos de 1976, sétima série, acho. Calor de mês de agosto, meados de estação (lembrei-me da música). Época em que os escorpiões ficam assanhados, bravos, fortificam o veneno.

Dia abafado, ventania, poeira. Lembro-me que no Polivalente, bem próximo ao portão da rua detrás, havia uma área retangular, de piso de terra, cercada por uma calçada de cimento. Ali, eventualmente, improvisávamos um campinho de pelada.

Em um determinado dia da semana, tínhamos aula de educação física no segundo horário.

Eis que num desses dias, o professor Jackson – sem nenhuma comparação aqui com o aracnídeo mencionado no início – acordou venenoso! Agitado, nervoso, ansioso para o início da aula.

Então, para surpresa de todos, a aula, que normalmente acontecia na quadra de cima, foi transferida para a mencionada área de terra. Bom, vamos lá…Polichinelos, agachamentos, flexões…

– TODO MUNDO RASTEJANDO AGORA,  bradejou o exigente mestre.

Lembrava treinamento militar.

Todos, é claro, já exaustos e imundos, sonhavam com a sirene que indicaria o intervalo. Pesadelo, pois a aula prosseguiu intervalo adentro e só fomos liberados faltando uns 10 min para o fim. Correria para o vestiário. Os calções verdes e as camisetas brancas, camuflaram-se com o terreno vermelho. Tínhamos que tomar um banho e trocar a roupa suja. Rápido, pois o intervalo já estava no fim.

Lógico que não tivemos tempo. Então, revoltados pela surpresa oferecida pelo professor Jackson, resolvemos vestir apenas a calça comprida do uniforme e fomos de camiseta mesmo. Vermelhas, suadas, em farrapos.

Dona Estela, tenho quase certeza de que era aula com ela, quase enfarta ao ver aquela procissão de moleques sujos e molhados. Cabisbaixos, mas com um ensaio de sorriso nos cantos das bocas, tomamos os nossos lugares justificando em uníssono:

– FOI O PROFESSOR JACKSON DONA ESTELA.

Acho que eles estão brigados até hoje.

 

por Anderson Nobre

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