foto: Anderson Nobre
foto: Anderson Nobre

O Eterno Continuar

Com a interdição da ponte que liga os bairros Morada do Sol e Sapucaia aqui em Montes Claros, passei a utilizar um caminho alternativo. Uma via, asfaltada, com pouquíssimos habitantes, ainda bastante arborizada, que liga os bairros Sapucaia e Jardim Liberdade.

Boa parte do percurso é feito margeando a serra, tornando o trajeto aprazível e belo. É um convite para quem gosta de fotografar a natureza. É também um bom trecho para uma caminhada ou uma pedalada.

Passando por lá, observei uma árvore com galhos já secos, bem na beira da via, ao pé da serra. Gosto de fotografar árvores com galhos secos, já sem folhas, captando-os preferentemente em monocromático e contra fundo bem contrastado.

Parei o carro, câmera na mão, mirei na árvore. Ao focá-la, percebi que havia alguns seres estranhos grudados em seus galhos, parecendo gigantes flocos de pipoca. Curioso, aumentei o zoom da lente e capturei as imagens que ilustram esse texto.

Pelo que deduzi são fungos exibindo sua parte visível, as quais conhecemos como cogumelos. Percebi que dependendo do ângulo de incidência da luz naqueles galhos, as estruturas assumem uma cor caramelo-esbranquiçado, contrastando com os vários tons de cinza dos galhos mortos. Simbiose de cores!

Imagino que os fungos encontram naqueles galhos o ambiente ideal ao seu desenvolvimento, a ponto de crescerem e nos brindarem com a sua forma cogumelo. Provavelmente tem gente que não gosta… Eu aprecio por demais. Acho essas estruturas incríveis. Ademais, alguns são comestíveis e bem deliciosos. Outros alucinógenos, medicinais, ornamentais…

Como não possuem clorofila, os fungos se alimentam de matéria orgânica em degradação. Os fungos e as bactérias são os únicos seres vivos capazes de digerir a lenhina e a celulose, substâncias presentes nas árvores. Assim, vão, lentamente, cumprindo seu papel no ecossistema, reciclando a matéria orgânica. É a natureza em sua constante e mágica transformação. Nela, nada se perde, conforme há muito demonstrado pelo célebre químico francês.

Pensei então naquela árvore ainda em vida. Pelo porte do seu velho tronco e dos seus galhos secos, deve ter sido por bons longos anos uma árvore robusta, frondosa. Talvez tenha florido, não sei. Com certeza serviu de abrigo temporário para pássaros em reprodução ou em descanso, naquela área de serra outrora abundante em fauna. Provavelmente, serviu de suporte para trepadeiras hospedeiras, como hoje observei nas vivas árvores vizinhas.

Agora, morta, ainda dá abrigo à vida! Fungos e outros organismos, inquilinos, sorvendo de nutritivo substrato. Apetitosa culinária da natureza!

Agora, morta, se decompõe num dinâmico recompor. Seres antes vivos se transplantando em seres agora vivos. Em fragmentos, diversos, dispersos, mutantes. Ciclos encerrando-se em reinícios. Morte gerando vida.

Atômicas ligações em químicas reações. Quão sábia é essa nossa natureza ao nos demonstrar a essência do existir nesse eterno continuar…

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