Como já salientei, expressar-me pela escrita é coisa ainda rara. Mas ficam me incentivando e ai dá aquela coceirinha. Sento e de novo me pego teclando. Caramba, publico ou não publico? Ponteiro do mouse se mexe freneticamente até acertar o botão Publicar. Foi…
Dia desses, observando um canteirinho aqui em casa, percebi uma verdadeira bagunça. Uma miscelânea de plantas que a princípio não me fez nenhum sentido, cobrando uma atitude de jardineiro. Mas, depois, achei interessante aquela mistura e assim deixei.
O canteirinho é bem fértil e a mistureba se apresentava viçosa em verde de tons diversos.
Um pé de mexerica ainda bem pequeno, ora-pro-nóbis, couve, hortelã, citronela, e até uns pezinhos de mato. Tudo, confinado em um minúsculo espaço de terra.
Num pequeno canteiro, tanta diversidade! Todas fortes. Cada uma ocupando seu espaço e, às vezes ousando uma pequena invasão no espaço alheio.
Salada de folhas. Entrelaçar de raízes.
Longe de ser um entendido em botânica, muito menos em nutrição vegetal, ali, naquele canteirinho de harmonia, as diferenças convivem num processo sinérgico, onde cada qual, com suas características, contribui de alguma forma para o vigor e o crescimento das outras.
As mais aromáticas podem atrair bons insetos polinizadores ou espantar pragas daninhas. As de raízes mais fortes e profundas podem manter a terra enriquecida e firme. As de folhas maiores podem estar sombreando e permitindo a germinação de algumas outras. As menores, de ciclos mais rápidos, numa natural compostagem, nutrindo as suas e as demais.
Hum, verde…Vem de novo a lembrança dos tempos de ginásio, paramentado ao jaleco do Polivalente.
No colégio, aquelas salas eram pequenos canteirinhos, germinando sementes e formando plantas. A diversidade se apresentava entre colegas, em todos os aspectos possíveis de serem percebidos naquela era de imatura adolescência. Mais e menos abastados. Pele clara e pele escura. Altos, médios, baixos. Gordos, magros. Engraçados, sisudos. Cabelos lisos, cabelos crespos. Sonsos (lembrei-me do meu apelido), espertos. Valentes, medrosos. Qualidades, virtudes, defeitos…Vitoriosos!!!
Salada de gente. Entrelaçar de vivências e experiências.
Tudo formando um verdadeiro “sistema” onde as inter-relações cuidavam do necessário e saudável equilíbrio num convívio quase diário. Cada um contribuindo com a parcela de seu ser. Humano! Troca, cumplicidade, divergência, experimentos, convergência, respeito, aprendizagem, amizade! Adubação de sentidos e sentimentos, nutrindo o crescimento daqueles seres adolescentes organizados em turmas. De ressaltar os jardineiros fiéis que eram aqueles nossos professores, regando as suas plantas.
Daqueles canteirinhos, fomos transplantados para os verdadeiros canteiros da vida. Crescemos, florimos, frutificamos, ao calor do sol, ao regar da chuva, ao balançar das ventanias, ao passar do tempo.
Em minha trajetória profissional e pessoal lidei muito com pessoas e pude comprovar a força, a riqueza e essencialidade da diversidade. Essência de ser humano. Essência se ser vivo.
Talvez, em cada um de nós, tenha ficado um tiquinho daquela terrinha, fazendo com que, de vez em quando, lá no fundo, nos lembremos com saudade dos nossos canteirinhos e dos seus vários tons de verde.
por Anderson Nobre
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