Escrevo, de novo de forma simplista e apaixonada, em especial deferência aos meus companheiros de peladas, na época em que cursávamos o ginásio. De antemão, peço escusas aos colegas, pois trago relatos um tanto quanto egoístas, extraídos das minhas próprias e fragmentadas lembranças.
Sábado que vem tem pelada!
Toc, toc, toc. Sou acordado por três indesejáveis toques na porta, seguidos de um sonoro “Já são quatro e meia…”.
Durante um bom tempo esse foi o meu abre alas aos sábados. Meu pai me chamando para acompanha-lo ao mercado municipal para a feira da semana. Acompanhar e jeito de falar, pois aquilo era uma flagrante condução coercitiva! Não tinha escolha, era ir ou ir.
Descíamos a pé, da rua Daniel Costa, no São Luiz até o mercado municipal, ainda ali na rua Coronel Joaquim Costa, bem perto da casa da Janine.
Cumprida a missão, voltava com o carregamento de mantimentos, tomava o meu café da manhã, revigorante, e já gritava: – Mãe, cê viu meu meião?
Meião encontrado, kichute, short e camiseta. Pronto para mais uma jornada esportiva. Hoje tem pelada na chácara da Dona Genoveva Mota, tia do colega Pedro.
A maioria se reunia e seguia a pé, em comitiva, pela Mestra Fininha, asfaltada somente até a altura da Delegacia de Ensino. Além dali, terra, poeira e mato. Outros, mais sortudos, seguiam de bicicleta, de carona no fusquinha do professor Ivan ou na Garelli do Pedro.
A chácara da “Tia” Genoveva, ficava próximo de onde hoje se situa o clube do Banco do Nordeste (BNB). Lá, o “estádio” era de uma grama nativa, bastante calvo. Nas laterais, cercas de arame. O campinho tinha um declive, no sentido sul -> norte o que exigia esforço adicional de quem jogava nesse sentido, pois a pelota descia acelerada. Era cortado, na vertical, por dois sulcos formados pelo vai e vem de carros e carroças, formando uma estradinha.
Por vezes, a arena era salpicada por montes de estrume de vacas, os quais habilidosamente driblávamos. A bola, coitada, não tinha tal sorte, e se esverdeava nas trombadas com o dito material orgânico.
Ao fundo, no lado sul, próximo a sede da chácara, havia uma cerca de velhas lascas de aroeira, onde, fazendo as vezes de arquibancada, sombreada por um majestoso pé de caju, o “time de fora” esperava a sua vez.
Normalmente, as partidas eram no esquema 20 min ou dois gols, o que ocorrer primeiro.
Em diversas ocasiões não tivemos “quórum” para completar dois times e, fominhas que éramos, fazíamos um três contra três, sem goleiro.
Peladas memoráveis. Nos divertíamos a beça com as improvisadas comemorações dos gols, com as hilárias jogadas erradas, com os desconcertantes dribles aplicados pelos colegas mais habilidosos. Sofríamos com os choques de canelas e raladas de joelhos.
Ao final, já sob o sol que castiga o meio-dia, terminávamos. Sedentos, empoeirados, suados, exaustos, realizados! Todos a seus postos, seguíamos de volta pra casa.
Faminto, um banho e almoço, não necessariamente nessa ordem.
Aquelas jornadas nos fizeram mais próximos, verdadeiros companheiros, membros de um time da Vida Futebol Clube.
Sábado que vem tem pelada, quem sabe…
Por Anderson Nobre