Os dentes sisos são aqueles terceiros molares, famosos, que quase todo mundo opta por retirar, sempre que há recomendação do dentista para tal procedimento. Quanto mais cedo melhor, indica a odontologia, sob pena de comprometimento da arcada dentária ao longo do tempo.
Eu extrai o meu primeiro dente siso há muito tempo atrás. Mas deixei os outros três. Agora, iniciando um tratamento odontológico, a dentista foi taxativa, a partir do resultado dos exames radiográficos: – Você precisa extrair esses sisos o mais rápido possível. Veredito dado, dois já foram esta semana e devo extrair o último nos próximos dias.
Fiquei pensando no porque não extrai todos os sisos antes. Medo do procedimento? Creio que não. Medo de ficar banguela, sem os terceiros molares? Também não, pois são dentes inúteis, quase invisíveis. Comodismo! Sim, comodismo acumulado durante muitos e muitos anos, não obstante eu estar ciente das consequência da permanência desses dentes.
Fui adiando, adiando, adiando. Agora não teve jeito!
Essa situação me levou a refletir sobre as coisas que teimamos em acumular. Supérfluos diversos que permanecem conosco, sem muitas vezes nos darmos conta.
Aquele monte de roupas que ocupam nossos armários e raramente ou nunca usamos. Algumas nem mais entram no corpo. Pares de calçados, espalhados por diversos locais da casa, também sem uso. Equipamentos eletrônicos obsoletos, ocupando desnecessariamente nossos espaços. Papéis e mais papéis, recibos, contas de luz, água, telefone… Documentos já caducados, mofando em pastas e arquivos mortos.
Tem também aquela bicicleta ou aparelhos de ginástica, mais usados como varal de roupas do que para a efetiva prática do exercício físico.
É claro que alguns itens têm para o proprietário inestimável valor sentimental. Mas mesmo alguns desses, principalmente aqueles em papel, podem ser armazenados de forma digital, com várias cópias de segurança, muito mais fácil de acessar e de preservar.
Muitos documentos guardamos sem necessidade, pois em diversos casos, a legislação vigente define um prazo de expurgo, como por exemplo dos documentos base para as declarações anuais do imposto de renda.
Desapego. Acho que essa seria a solução para deixarmos de acumular tantas quinquilharias e coisas supérfluas. Não é fácil, mas entendo que precisamos refletir sobre a questão.
Importante pensarmos no descarte responsável, ambientalmente correto, principalmente no caso dos elétricos, eletrônicos, plástico, etc. Há de se ter cuidado também com a segurança das informações constantes em diversos documentos, que devem ser fragmentados ou inutilizados antes de encaminhados à reciclagem.
Roupas, calçados, moveis, utensílios domésticos, aparelhos de ginástica podem ser facilmente doados ou até comercializados, dependendo do estado de conservação e da vontade do proprietário. Aposto que nos surpreenderíamos com tanta gente necessitada, que faria bom uso daquilo que para nós não tem mais serventia.
Confesso ser um acumulador por natureza… Preciso desapegar!
Bom, até o momento me referi às coisas do mundo físico. Mas no plano emocional, creio que também acumulamos supérfluos. Um naco de rancor, uma rastro de mágoa, um sentimento de intolerância ou preconceito, uma dose de inveja, um tantinho de egoísmo ou mesmo aquele relacionamento já esgotado há tempos, que teimamos em ruminar.
Seria possível descarta-los? Talvez. Por meio do perdão, da compaixão, da empatia, do respeito, da tolerância, de novos encontros e relacionamentos. Exercício muito mais difícil ao comparado com as coisas físicas, mas penso ser necessário, sobre pena de comprometimento das arcadas da alma.
Também nas coisas do emocional é preciso o descarte responsável, cuidadoso, sem nos ferirmos ou a outras pessoas. Ajuda terapêutica especializada pode ser um bom caminho.
“Idade do juízo” = siso, em latim. É isso! Sisos, pra que te quero?
Por Anderson Nobre