Sons do Parque

Costumo caminhar diariamente no parque Sagarana. Um espaço bem arborizado, onde construíram um pista asfaltada de aproximadamente 1,2 km. Andando, cada volta dura em média 8 minutos.

Como gosto muito de música, sempre ando com fones no ouvido, conectados ao celular. Os fones, ainda que em volume baixo, abafam sons externos, vindos dos diversos lados do parque.

Mas, eis que um dia resolvi caminhar sem os fones. Curioso para ouvir na plenitude os sons daquele lugar.

Como já esperava, predominam os sons dos pássaros. Há diversos tipos alí, e, é claro, são diversos os sons por eles emitidos. Há cantos agudos e longos, curtos e rápidos, há aqueles que se dobram em refrãos. Cantos que parecem de alegria, outros um chamado, outro, de certa melancolia. Há até aqueles do acasalamento. Pios, chilros, gorjeios…Uma verdadeira sinfonia de passarinhos. Música!

De repente um toc, toc, toc  produzido pelo resistente bico de um pica-pau à caça de sua refeição. Cabecinha vermelha, como aquele do desenho animado. Sigo andando, ouvindo…

Vez ou outra, um sonhinho (sagui) aparece com seu assobio longo, normalmente acompanhado de um filhote ou um parceiro(a). Sons das árvores.

Assustei-me, uma ou duas vezes com o chacoalhar de folhas secas no chão. Cobra? Não, apenas uma arisca lagartixa se deslocando em alta velocidade. Sons do chão.

Não dá pra desprezar o som ruidoso dos carros passando pela avenida. Caminhões e motos  parecem ter prazer em reduzir a marcha e acelerar naquele trecho, competindo de forma desigual com os sons da natureza ali confinada. Nesses momentos, instintivamente, tendo conferir maior atenção ao ouvido que dá para a parte interna do parque. Os sons são bem mais agradáveis.

Em raros momentos, vento e árvores em sussurros. Cochichos!

Aquela caminhada sem os fones no ouvido trouxe novas percepções e sensações, produzidas por uma pluralidade de sons, mixados aleatoriamente. Ouvidos comandando olhos, buscando captar cada detalhe.

Penso que em nossa caminhada da vida, por vezes nos esquecemos de retirar os fones dos ouvidos. Talvez nos passem despercebidos  os diversos sons ao nosso redor, tolhendo percepções, sensações, emoções.

É; percebo que a arte do saber ouvir é por vezes negligenciada. O corre corre do dia a dia, os problemas e as preocupações, o egocentrismo, a pressa, a raiva, o desalento… Fones emocionais que abafam os nossos ouvidos.

Fiquemos atentos, pois, quem sabe,  bem pertinho, naquele nosso parquinho da existência, tem alguém precisando ser ouvido. E também de ouvir. Sons de desejo, sons de carinho, sons de amparo, sons de alegria, sons de solidariedade. Sons que se produzem por formas diversas. Aqueles do tapinha ou do esfregar das mãos de um abraço. Aqueles de uma gargalhada amiga, revigorante. Aqueles de um choro conjunto, confortante. Aqueles de um diálogo sincero, reparador. Aqueles de um brindar, divertido. E até mesmo aqueles de um compartilhar em silêncio, tranquilizador.

Nesse saber ouvir, todos os sentidos devem ser colocados a postos – audição, visão, olfato, paladar, tato. Verdadeiros sensores em busca dos sons do parque.


por Anderson Nobre

Gentileza avaliar esse texto