Sempre fui fascinado pelas aranhas, essas incríveis criaturas e suas engenhosas teias.
Solitárias na maioria do tempo, tecem suas teias a partir de proteínas produzidas em seu interior, que se enrijecem ao entrar em contato com o ar externo. Múltiplas mãos fazendo arte. Tecelãs. Artistas. Natureza em puro estado de perfeição.
Teia, armadilha, define território, garante alimento, protege. Castelo particular construído em fios de seda. Delicada fortaleza.
Teia, geométrica, simétrica. Mais concentrada no meio, ramificando-se pelas pontas. Tecido, rede, leque, novelo…
Nos também tecemos nossas teias.
Nutrindo-nos do que nos cerca. Sentindo, processando. Devolvendo em forma de proteínas de vida, que se materializam nos contatos. Tecendo as redes da personalidade. Abrindo leques de relações. Enrolando novelos de histórias ao longo do tempo. Teias…
De encanto, atração, captura, perda, libertação. Embaraço, confusão. Profusão. Teias…
Que se originam centrais, fortes, duradouras. Pais, irmãos, avós… Estendem-se. Parentes, amigos, colegas… Alastram-se. Namoros, casamentos, trabalhos, filhos, netos… Fios interligados. Entrelaçados. Definem comportamentos, constroem relacionamentos. Teias…
De desejos, experiências, experimentos. Percepções e sensações. Sonhos, realizações, frustrações, decepções. Coragem e medo. Conquistas e perdas. Decisão, indecisão, certezas, dúvidas. Nós, caminhos, perspectivas. Teias…
Que se rompem. Novos teceres! Novas trilhas sob a leve seda do ser. Resistência, perseverança, resiliência. Recomeços, amarras, remendos. Teias…
Num repetido atar, desatar, reatar. Ligar, desligar, religar. Unir, desunir, reunir. Fazer, desfazer, refazer. Mover, parar, remover. Lembrar, esquecer, relembrar. Encontrar, separar, reencontrar. Construir, destruir, reconstruir. Viver e reviver. Teias…
Que nos fazem voltar ao centro – proteger. Voltar às pontas – expandir. Ir e vir. Tecer e tecer. Teias…
Da vida. Maravilhas de ser tecido, humano.
Por Anderson Nobre